Tradições da Beira

MATANÇA DO PORCO
Como é do conhecimento geral, a matança do porco era uma festa familiar e reforçava a despensa para o próximo ano. Depois de trazido o porco da furda que em alguns casos situava se ao lado da casa e ainda me recordo de serem guardados na loja por baixo da habitação, normalmente ficava fora da povoação, mas nunca muito longe de casa. O porco era agarrado com garra por quatro ou cinco homens que o deitavam em cima da banca de madeira. Depois de bem seguro, o matador ata-lhe o focinho, não vá ele morder e espeta-lhe a faca. Normalmente uma mulher com um alguidar de barro apanha o sangue onde mistura um pouco de sal e vai mexendo-o com a mão para não coagular. Seguidamente a mulher coze-lhe o golpe feito pela faca do matador e começa-se a chamuscar o porco com chamuscas de giestas secas e mais recentemente com maçaricos a gás muito mais eficientes.
Depois de bem chamuscado, esfrega-se e lava-se bem lavado e dependura-se com a ajuda de uma corda e do chambaril na parede exterior na casa ou no sobrado do sótão para se poder abrir e retirar as tripas. Nesta operação é preciso muito cuidado para que se não rebente o fel, que iria causar mau sabor nas carnes. Depois desta operação as mulheres partem para o ribeiro para lavarem as tripas com água, sal e laranjas, que posteriormente vão servir para fazer os chouriços, farinheiras, morcelas, etc.
Os homens pesam o porco com auxílio de uma balança manual de pendurar “Romana” e seguidamente continuam a desmanchar e separar as carnes que as mulheres irão mais tarde utilizar para os diferentes tipos de enchido ou pratos que irão ser confeccionados. Os toucinhos e presuntos vão para a salgadeira onde serão conservados durante o ano. Se for lua nova não se mexe em carnes. Fevereiro é ainda um optimo mês para a matança, já que esta tradição acontecia nos meses de Inverno, com temperaturas negativas, altura ideal para conservar as carnes. Quando era jovem muitas vezes assisti á matança do porco, numa altura em que só existia o sal para conservar as carnes Hoje qualquer altura pode ser boa para este trabalho já que as carnes são todas guardadas nas arcas congeladoras.
Mas será que a tradição da matança do porco desapareceu nas nossas aldeias? É fácil que a maioria das familias já não o façam, dado as possibilidades de comprar todos os dias carnes frescas no talho lá da aldeia ou do bairro

Comentários

Lourdes disse…
Nunca tive coragem de assistir à morte do porco. Normalmente, ficava em casa no local onde menos se ouvissem os guinchos desesperados do animal. No entanto, adoro carne de porco e o dia da matança era um dia de fartura à mesa.
Beijinhos
Lourdes
nildevajao disse…
obrigado Luis por nos mostrar estas belesas
nildevajao disse…
obrigado Luis por nos mostrar estas belesas

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