Minha aldeia Bogas de Baixo


A minha aldeia não tem idade! Perdida na noite dos tempos, não se sabe quando nasceu! Velha, mas alterada pela evolução dos tempos com a ajuda da mão humana, ali está erguida num pequeno Vale indolente e melancólico a desafiar a diversidade do clima, que é por vezes rigoroso mas carregado de ar puro e saudável.

Dividida ao centro pelo Chafariz o qual domina aquele agrupamento de habitações separadas por ruas pavimentadas com pedra xistosa da nossa região pardacenta gasta, numa esquadria quase inexistente, ruas estreitas mas bem conservadas.




Adormecida entre eiras e jeiras, olhando o vale pelo qual serpenteia a ribeira com pontes e pontões sobre as quais se cruzam estradas de terra batida que descem e sobem ladeiras até Bogas de Baixo.


Por cima da copa das oliveiras observa-se a cúpula da velha igreja, branca e rutilante


A paisagem está coberta de pinhais,de ervideiros e de oliveiras que de um perene verde-escuro lhe emprestam o perfume agreste do campo


Rodeada de pequenos lugares de rara beleza. Por vezes visito esses lugares, passo por ali, propositadamente, quando me é possível, geralmente, em momentos de retiro e lazer, sendo um dos segredos míticos da minha adolescência. Ir a esses lugares faz-me sentir simultaneamente misterioso e fraternal


Ali toda a vida se renova e volto a ser criança naqueles breves instantes de contemplação e saudade.
Os habitantes da minha aldeia,geralmente, passam o tempo, numa luta com a memória, lembrando a sua juventude, contemplando um mundo novo que já não é o seu..., e inventavam lamechas para arranjar um pretexto para assim darem dois dedos de conversa. sinal dos tempos. As aldeias como Bogas de Baixo estão cada vez mais sós onde a população residente já chegou á terceira idade
O meu pai foi um mouro de trabalho no campo destacando se no fabrico de carvão muito artesanalmente, arrancando as torgas e fazendo grandes covas no chão daquelas encostas onde queimava as torgas e as cobria de terra de onde depois extraia o carvão.


Não, eu nunca iria seguir meu pai pelas encostras com o sacho e a picareta aos ombros, ou ainda atraz do burro pachorrento, puxando o arado que sulcava as sementes que ele lançava, com gestos de oração, como se escutasse salmos de vida a sair das entranhas rasgadas da terra.

Bogas de Baixo lá está no mesmo sitio, hoje com traços arquitectónicos mais recentes, mas será sempre Bogas de Baixo a terra onde eu nasci

Comentários

Lourdes disse…
Amigo Luís
É linda a sua aldeia e, apesar de todas as dificuldades pelas quais os seus moradores passaram, será sempre "a sua aldeia".
Beijinhos
Lourdes
Ângelo disse…
Belo texto, bem sentido por quem ama a sua terra. Eu poderia subscrevê-lo ao falar da minha, Vila Franca das Naves, na Beira Alta, a única terra do concelho de Trancoso onde passa o comboio tantas vezes usado para se chegar, pelo Norte, à Beira Baixa.
Mas escrevo sobretudo para que consulte ( e seja mais um seguidor / divulgador) o blog, http://casadabeiraalta.blogspot.com/, onde se vai deparar com um “ Filho de Bogas de Baixo” de quem sou particularmente amigo e que merece ser referenciado pelos seus “Ecos”.

Abraço beirão.
Ângelo Henriques
Ângelo disse…
Senhor Luís Antunes
Não sei se chegou a visitar o Blog da Casa da Beira Alta no Porto e, se sim, se descobriu o boguense Dr. João Silva Gama, Professor de Filosofia reformado e ex Sacerdote Jesuíta.

Ângelo Henriques

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