Quando chegava o Outono

Um dia destes, envolto em pensamentos lembrei me que na nossa aldeia, todos os anos logo que o Verão se acabava e o tempo começava a mascarar se de cinzas escuras no firmamento, eu tal como muitos dos meus amigos como o João Abilio, o Eliseu, o Fernando, o Elisio, o Ilidio e muitos outros rapazes do meu tempo que agora não me lembro o nome, começávamos a preparar as armadilhas para a passarada.
Lembro me por exemplo que no principio armava mos os costis (ratoeiras)

com bichos das canas do milho chamavamos lhe (carneiros). Mais tarde começámos a levar um sacho e iamos escavar onde havia formigueiros na esperança de apanharmos as formigas com asas (agúdiascom que depois armava mos os costis . Para isso tinhamos sempre umas caixinhas próprias onde as metiamos e alimentavamos durante alguns dias
Normalmente a gente combinava e começavamos a preparar a caçada na noite anterior. As ratoeiras estavam já um pouco enferrujadas com falta de uso ,e seria necessário olea las para que no dia seguinte a caçada tivesse exito. Normalmente os nossos pais e avós ainda guardavam um potezito de azeite lá na loja e a gente ás sucapas aproveitavamos surripar um pouco para o efeito do oleamento das peças de trabalho (Costis ou ratoeiras) )


A aurora começava bem cedo, por volta das seis da manhã, a malta combinava sair a essa hora e quem não estivesse ficava,falhavam sempre um ou dois
depois vinham lastimar se por não terem esperado um pouco mais, mas o Eliseu que era o mais espigadote dizia: quem quer apanhar taralhões tem que levantar o cu da cama cedo, mas muiats vezes tambem se apanhavam piscos que era uma chatice


ás seis horas ainda o sol não se via e lá iamos nós ribeira de Bogas acima aproveitando os milhos e outras culturas á beira da ribeira para aí deixar mos uma armadilha e iamos ali pelo moinho fundeiro direito ao Oldeiro e chegavamos quase sempre á Varzea Redonda onde aproveitava mos tambem os pequenos olivais para caçar o célebre taralhão, nem sempre tinhamos sorte


Normalmente depois de deixar uma grande quantidade de armadilhas espalhadas ribeira acima, já o sol ia bem altinho, desciamos até Bogas e aproveitavamos para comer alguma coisa para em seguida darmos mais um giro a ve las as que estavam desarmadas ou tinham pássaro eram recompostas e ficavam á espera de mais um pássaro
Quando á noite regressavamos á aldeia eramos sempre bombardeados com as perguntas sempre iguais, então tal foi a passarada? quantos apanharam? etc etc
Hoje recordo com muita saudade esses tempos. Primeiro porque a maior parte dos meus amigos nunca mais voltei a ver cada um foi para seu lado. O Eliseu deixou nos há poucos dias infelizmente. e aqueles que ainda consigo ver e conversar é apenas muito raramente.Espero que alguns desses meus amigos possam ainda ler estas letras e recordar comigo tempos de grande amizade e alegria entre todos
Tempos que passaram e não voltam mais

Naquele tempo até já podia ser proibido praticar este tipo de caça, mas a gente nem se apercebia disso, nunca fomos presos nem sequer admoestados.
Hoje em dia seria impossivel a rapaziada ter estes mesmos passatempos e a prova disso é a noticia que o correio da manhã publicou em 2009 sobre prisão de dois rapazes aqui bem perto de onde eu moro por caçarem aves com os costis que embora possam ser mais modernos não passam disso mesmo
vejam aqui toda a noticia

Comentários

mariolima52 disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Mário Lima disse…
Olá Luís

Confesso que não conheço Bogas de Baixo. Procurei na net para situar a aldeia mas, pelas imagens aqui deixadas, é um recanto bem bonito do nosso Portugal.

Num longínquo país lembro-me de apanhar pássaros com visgo, mas nunca fui um grande apaixonado da caça sempre gostei mais de ver a passarada em liberdade. Feitios!

:)

Obrigado pela dita divulgação das minhas páginas musicais. Espero que goste e volte sempre!

Abraços
Anónimo disse…
Tenho um amigo que tem como apelido
Zé da pássara.Porque uma vez foi armar os costis e quando chegou a aldeia perguntaram-lhe:
Então zé apanhaste algum pássaro?
-Ele respondeu não apanhei nenhum pássaro mas apanhei uma pássara.Ficou sempre o Zé da pássara.

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